Consciência negra através dos livros

Pensei muito em como começar este post. Como mulher negra, sinto que talvez eu deveria ser capaz de achar palavras mais facilmente para tratar sobre a data de hoje, 20 de novembro, dia da consciência negra. Mas a verdade é que não é mais fácil para mim, como negra, falar sobre negritude e literatura.
Por muito tempo o colorismo me afetou. Eu era "morena", uma "negra mais clarinha". Me questionava sobre isso, mas não lia sobre o assunto. Foi através da leitura, já na transição da adolescência para a vida adulta, que me identifiquei como preta. Ainda ouço as pessoas dizerem que não sou preta quando me declaro assim, como se fosse mais confortável "amenizar" a minha negritude. Mas hoje é assim que eu me vejo, e com muito mais orgulho que anos atrás.

literatura negra

Falando sobre os livros, resolvi indicar algumas leituras que fiz neste ano e que me ensinaram muito sobre negritude. São todos escritos por mulheres negras, o que me agrada muito e ao mesmo tempo me faz questionar: onde estão os autores homens negros? Acho que além do Machado de Assis, não consigo me lembrar de nenhum outro autor negro que eu tenha lido (e na época que li o Machado ele nem era "oficialmente negro", o que é horrível. Recomendo a leitura deste artigo da revista Quatro Cinco Um sobre a questão). Aproveito então e peço que, caso conheçam, me recomendem autores negros nos comentários (tanto homens quanto mulheres também). 

the hate u give

1. O ódio que você semeia (The Hate U Give), da Angie Thomas 

Este livro, que ficou bem famoso por ter sido adaptado para o cinema (ainda preciso ver o filme!), é uma ótima forma de introduzir a temática de raça para a juventude. A protagonista é a Starr, uma garota que se divide entre duas realidades: a de sua família e o bairro onde vive, que é predominantemente negro, e a escola em que estuda no subúrbio, onde a maioria é branca. O livro trata de violência policial, com a Starr sendo testemunha do assassinato de seu amigo Khalil. É um livro poderoso, que nos faz reconhecer o quanto não podemos jamais calar a nossa voz. Já tem resenha dele aqui no blog.

na hora da virada

2. Na hora da virada (On the come up), da Angie Thomas

Sim, eu vou indicar dois livros da Angie por quê ela é MARAVILHOSA. Acabei de concluir o seu segundo livro e estou ainda mais encantada com o trabalho dessa mulher. Dessa vez temos como protagonista a jovem rapper Bri, que está tentando começar a sua carreira no campo da música mas enfrenta muitas barreiras e preconceitos. Assim como o seu livro anterior, a autora trata nesta obra de temas como educação, família e drogas, mas num contexto diferente e marcado pelo mercado da música. Eu amei demais essa história e irei resenhá-la em breve por aqui.

LEIA TAMBÉM: Cartas a povos distantes (Fábio Monteiro)

guerra as drogas

3. Guerra às drogas e a manutenção da hierarquia racial, da Daniela Ferrugem

Numa narrativa não ficcional, a autora Daniela Ferrugem aborda neste livro a questão das drogas no Brasil, num debate sobre política, ações proibicionistas e manutenção da hierarquia racial. O livro é resultado de sua dissertação de mestrado e já foi resenhado aqui no blog. A Daniela é assistente social e pesquisadora, e faz em sua obra um apanhado histórico da presença das drogas no país, inserindo um debate extremamente pertinente a respeito de como a sociedade enxerga os usuários e dos estigmas que eles carregam, tendo muitas vezes sua subjetividade negada.

kindred

4. Kindred: Laços de Sangue, da Octavia E. Butler

A Octavia demorou a ser publicada aqui no Brasil, mas desde então tem aparecido na lista de mais vendidos com as suas obras de ficção científica. Nesta obra, ela mistura viagens no tempo, escravidão, preconceito e violência, numa trama de tirar o fôlego. Fiquei muitas vezes aflita ao ler tudo pelo que a protagonista Dana passou, após ser enviada várias vezes ao passado como uma escrava e não ser capaz de entender ou controlar esse fenômeno. Veja mais detalhes na resenha completa que publiquei aqui no blog. 

talvez precisemos de um nome para isso

5. Talvez precisemos de um nome para isso, da Stephanie Borges

Este livro é na verdade a minha leitura atual, e é também o livro do mês do CALMA - Clube Ativista Literário Para Mulheres Ansiosas. Na obra a autora carioca reúne poemas que traduzem experiências vividas por ela, passando pelos contextos da estética, da opressão, beleza e identidade. Pretendo resenhar o livro assim que concluir, e recomendo muito a compra do e-book, que está com um precinho ótimo na Amazon.

Espero que este post tenha te inspirado a ler mais literatura negra, e que este dia sirva para você refletir sobre o assunto. Se quiserem mais dicas de leitura, preparei uma lista com mais obras lá na Amazon que vocês podem conferir clicando aqui.

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