A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata (Mary Ann Shaffer e Annie Barrows)

Assim como deve ter sido para muita gente, este livro me chamou a atenção pelo nome. A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata é um título longo, engraçado e que não diz muito sobre o que o livro representa. Li a sinopse, me interessei, adicionei à lista de desejos e ganhei ele de aniversário. Neste mês resolvi tirá-lo da estante e apenas ao iniciar a leitura percebi que se tratava de um livro epistolar (escrito em cartas), o que foi engraçado, pois eu havia acabado de concluir outro livro com esta mesma ferramentas de escrita. Mas além do fato de ter este formato, este livro em nada tem a ver com Cartas no corredor da morte, já resenhado aqui no blog.

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SINOPSE

A sociedade literária e a torta de casca de batata conta a história de Juliet Ashton, uma escritora em busca de um tema para seu próximo livro. Ela acaba encontrando-o na carta de um desconhecido de Guernsey, Dawsey Adams, que entra em contato com a jornalista para fazer uma consulta bibliográfica. Começa aí uma intensa troca de cartas a partir da qual é possível identificar o gosto literário de cada um e o impacto transformador que a guerra teve na vida de todos. As correspondências despertam o interesse de Juliet sobre a distante localidade e narram o envolvimento dos moradores no clube de leituras – a Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata –, além de servirem de ponto de partida para o próximo livro da escritora britânica.

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Preciso dizer que, desde a primeira carta, me encantei com a protagonista Juliet. Escritora britânica na casa dos trinta, ela está começando a fazer sucesso após a publicação de seu segundo livro, que reúne artigos publicados por ela em jornais durante a recém terminada Segunda Guerra Mundial. Juliet é perspicaz, cheia de vida, e faz comentários hilários em suas cartas (mesmo quando o assunto demanda um pouco mais de seriedade). Sendo a personagem central, vemos trocas de cartas entre ela e seu editor, Sidney, sua melhor amiga Sophie, e os muitos outros personagens que vão adentrando na história com o tempo. Estes também trocam cartas entre si, não sendo Juliet necessariamente a remetente ou destinatária em todas elas.

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Certo dia, entre as cartas que vão e vem, Juliet recebe um pedido de um destinatário incomum: um rapaz de Guernsey (ilha do canal da mancha, território inglês), chamado Dawsey, lhe pergunta se ela teria recomendações de outros livros de Charles Lamb. Ele leu um dos livros do autor através de uma cópia que antes havia pertencido à Juliet, e continha o seu endereço escrito na folha de guarda. De alguma forma este exemplar foi parar na ilha, e ele decidiu pedir sua ajuda para encontrar mais recomendações de leituras do autor.
Juliet e Dawsey passam então a conversar sobre literatura, Guernsey e a segunda guerra, e é assim que Juliet descobre a existência da Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata de Guernsey - sim, este é o nome completo da associação. Encantada com tudo isso, curiosa a respeito das histórias que os membros dessa sociedade tem a contar e percebendo que este é um possível tema para um novo livro, Juliet começa então a trocar correspondências com vários moradores da ilha.

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CONSTRUÇÃO DOS PERSONAGENS


Foi interessante para mim ver como vários personagens puderam adquirir personalidade simplesmente através de cartas. Mesmo sem muitas descrições e poucos diálogos (alguns eram transcritos nas cartas), consegui criar claramente a imagem de cada um deles. Gostei muito de ver também como amizades iam surgindo através das cartas, ou como relações eram mantidas por elas com o mundo já conhecido por Juliet. Seus grandes amigos, Sidney e Sophie, vão moldando também a imagem da própria Juliet, afinal eles conhecem ela como ninguém. 


CONTEXTO HISTÓRICO


Como citado anteriormente, o enredo deste livro se passa no período pós Segunda Guerra Mundial. Sendo bem sincera, antes da leitura eu não sabia nada a respeito das ilhas do Canal da Mancha e a ocupação alemã que elas sofreram na década de 40, e descobri que esta ocupação serviu como forte propaganda nazista, com o slogan de que a Alemanha teria conquistado a Inglaterra - o que não deixa de ser verdade, já que as ilhas fazem parte do território do país.
Apesar de ser uma leitura leve e divertida, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata consegue abordar bem este contexto, trazendo elementos como a fome, as percas e os sofrimentos causados pela guerra. Não vejo este como o principal foco do livro, mas num contexto pós guerra é impossível não tratar de alguns traumas que passaram a fazer parte da vida dos personagens.


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AMOR PELOS LIVROS


Acredito que o elemento que mais me chamou atenção neste livro foi o amor dos personagens pelos livros. Claro que com uma protagonista escritora e uma sociedade literária envolvida na história seria impossível o amor à literatura não ser retratado, mas a forma como isso aconteceu foi encantadora. Em muitos trechos me identifiquei com o que li nas cartas, pois muitas vezes vi ali traduzidos os meus sentimentos de leitora.

É isto que amo na leitura: uma pequena coisa o interessa num livro, e essa pequena coisa o leva a outro livro, e um pedacinho que você lê nele o leva a um terceiro. Isso vai em progressão geométrica - sem nenhuma finalidade em vista, e unicamente por prazer." p. 20

GUERNSEY DO SÉCULO XXI

Fiquei tão encantada com o livro e as ilhas do canal que resolvi pesquisar um pouco a respeito de Guernsey. Descobri que hoje em dia ela é um forte ponto turístico, e inclusive li algumas matérias do site deles sobre os programas legais que a ilha oferece aos turistas. Guernsey é também um paraíso fiscal, assim como outras ilhas do canal, por possuirem leis mais brandas quando o assunto é economia. É possível ler mais sobre isto neste artigo da revista Istoé.

AS AUTORAS


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Mary Ann Shaffer e Annie Barrows são respectivamente tia e sobrinha, e a primeira infelizmente faleceu antes da publicação do livro. Annie foi responsável por finalizá-lo e publicá-lo, e o resultado final, como já deve ter ficado bem claro para vocês, me agradou muito. A escrita é maravilhosa, as referências a outros livros e autores são incríveis, e eu consegui aprender muito com este livro - tanto em relação aos fatos históricos, quanto curiosidades gerais. Por exemplo, você sabia que Victor Hugo já se refugiou nas ilhas do canal? Foi lá que ele escreveu o seu livro Os Trabalhadores do Mar.


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POR FIM...


Um livro capaz de agradar leitores de diversos gêneros, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata merece muito prestígio. O livro entrou para a minha lista de favoritos e com certeza pretendo reler no futuro! Agora só me resta assistir ao filme baseado no livro, que foi lançado no ano passado e está disponível na Netflix. Fiquem de olho no meu Instagram que irei compartilhar as minhas impressões lá quando assitir!

ISBN: 978-85-325-2410-2
Editora: Rocco
Nota: 5/5⭐ + 💗

Esta leitura fez parte do projeto #EstanteZero

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