SINOPSE
Neste livro, a jornalista italiana e escritora premiada, Ritanna Armeni, reconstrói a história de um grupo de mulheres soviéticas fiéis à sua pátria: as aviadoras do 588º Regimento de Bombardeio Aéreo Noturno Soviético. Com um importante papel de liderança durante as batalhas contra o Terceiro Reich, elas prejudicavam e muito a vida dos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, aparecendo nos céus carregadas de bombas. Os nazistas as chamavam de “bruxas da noite”. A autora revela informações sobre a criação, a luta e as vitórias dessas mulheres que foram apagadas da história após o declínio de suas carreiras como aviadoras devido ao conservadorismo e preconceito do Estado Soviético.
Fiz as fotos do livro junto com um matcha latte - quem me acompanha nos stories do Instagram viu que era a bebida oficial das minhas manhãs enquanto lia este livro 💚 Apesar de tratar de um tema forte, essa foi uma leitura extremamente prazerosa, que li aos pouquinhos para poder apreciar melhor. Na obra, a autora Ritanna Armeni reúne as peças espalhadas sobre a história do regimento conhecido como o das bruxas da noite, composto exclusivamente por mulheres, que lutaram na guerra contra o exército alemão. O maior e mais importante relato do livro é o de Irina Rakobolskaja, a última bruxa ainda viva no período de pesquisa da autora sobre essa história. São as entrevistas com ela que possibilitam a construção da linha do tempo apresentada no livro, que ela alimenta com diversos relatos de sua trajetória pessoal.
Seria possível que biplanos, que parecem brinquedos, mas espalham tanto caos, sejam pilotados por mulheres? Seria possível que fossem elas a provocar, todas as noites, tanta destruição? O comando prefere não difundir a notícia; os homens não devem saber que são ameaçados por garotas soviéticas no comando de aviões de brinquedo. Seria algo insuportável para eles. Mesmo Algred tem dificuldades para aceitar o fato. Seria possível que fossem mulheres? Tão competentes, ágeis, precisas, impiedosas? Tão indiferentes ao perigo? Chegam à noite, de repente, semeiam o terror e depois tocam novamente o céu. Misteriosas, fugidias, impossível de capturar. Parecem bruxas. Nachthexen, bruxas da noite."p. 12
Outra figura importante presente na obra é a da coronel Marina Raskova. Líder do regimento, foi a sua história que inspirou Ritanna Armeni a buscar saber mais sobre as bruxas da noite e escrever este livro. Marina foi uma das mulheres pioneiras do exército soviético e reuniu centenas de mulheres, pilotas e mecânicas, que fizeram parte da linha de frente da URSS na segunda guerra mundial.
Os capítulos contém os relatos de Irina e também as observações da autora no momento da entrevista, onde ela descreve o semblante da entrevistada, uma foto mostrada por ela, diários, notícias, e até mesmo fala sobre a dinâmica da conversa intermediada pela tradutora. Achei interessante a sua escolha de separar as duas coisas, o que permitiu que a autora fizesse uma certa novelização dos fatos nos trechos onde ela indica apenas os relatos de Irina. Admito que isso me incomodou um pouco - prefiro quando uma obra de não-ficção se atém aos fatos - mas compreendo os motivos para tal. Isso deve ter tornado a obra mais atrativa para alguns leitores, e dramatiza ainda mais essa história marcada pelos males da guerra.
São as histórias de todas aquelas mulheres, seus medos e seus motivos para estarem ali naquele regimento, que delineiam toda a obra e nos fazem refletir. São histórias que falam sobre autonomia, libertação e busca pela igualdade. Elas demonstram o individual e o coletivo das discussões de gênero da União Soviética, e suas histórias têm, com certeza, muito a nos ensinar.
Há um momento na história de toda emancipação - pessoal ou coletiva - em que se sente um disparo interno, um clique. Trata-se de um pequeno, mas preciso, movimento da mente ou da alma, também provocado por um fato ou episódio irrelevante, um gesto, uma sensação. Mesmo depois de passado muito tempo, toda mulher que tiver iniciado seu caminho pessoal em busca da igualdade é capaz de identificá-lo. E é possível percebê-lo de maneira bastante distinta nos eventos coletivos que às vezes marcam a mudança em direção à igualdade entre os sexos na história do gênero humano. É o momento em que se pensa ter conseguido, em que se acredita que uma situação de desigualdade inicial foi superada. O clique mal é perceptível, mas desencadeia uma grande, imediata e, aparentemente, irracional sensação de liberdade. Como se quem o registrasse tivesse por fim conquistado um direito pessoal ou coletivo de propriedade sobre a própria existência. " p. 177
LEIA TAMBÉM: A menina da montanha (Tara Westover)
Este não é um livro sobre a vitória ou a decadência da URSS, e nem mesmo sobre a história da Segunda Guerra Mundial em si. É uma obra sobre mulheres superando as expectativas que recaem sobre elas, sobre suas lutas e perdas, e também sobre amizade e conflito. Recomendo a todos que curtem ler uma boa narrativa de não-ficção, e que desejam aprender um pouco com a trajetória das bruxas da noite.
ISBN: 978-85-5503-107-6
Editora: Seoman
Nota: 4/5 ⭐
*este livro foi enviado pela editora em troca de uma opinião sincera*
0 Comments
Post a Comment