Aquele livro que li era bom mesmo?

O que me inspirou a escrever esse post foi o Twitter. Eu estava lá, perambulando na rede social em uma noite de insônia, quando me deparei com a tag "Rainbow Rowell Racista". Na hora já fiquei tensa, por que sempre elogiei muito os livros da autora, e fui sendo levada de tweet a tweet até este post aqui, do blog Sentimento de Leitor. Foi aí que eu me dei conta de que eu não me lembrava de nenhum dos trechos de Eleanor & Park citados na matéria.

livros

Refletindo mais sobre o assunto, comecei a pensar sobre todos os livros que li quando era mais jovem e com os quais possuo uma memória afetiva, mas não lembro exatamente dos detalhes da história. A real é que minha memória é péssima e eu costumo esquecer muito rápido dos livros que li, ficando apenas com o plot principal na mente. Lembro do romance entre Eleanor e Park, lembro que eles falam sobre várias referências legais dos anos oitenta, que o livro tratava de alguns conflitos familiares interessantes... Nada além disso. E agradeço ao post que citei lá em cima por ter me alertado.
A questão é que, quando li os livros na Rainbow Rowell lá nos meus 18 anos, eu não tinha a mesma carga intelectual que possuo hoje. Eu não tinha acesso a informação da mesma forma, eu não entendia tanto assim sobre questões raciais. E tá tudo bem, afinal eu só tinha 18 anos. Considerando que após essas leituras eu já cursei Ciências Sociais, enfrentei várias outras problemáticas na vida e o mundo em si mudou bastante, é de se esperar que, se um dia eu reler Eleanor & Park, eu ache o livro uma porcaria e o considere racista. Mas as chances de eu reler são muito pequenas.

LEIA TAMBÉM: O que me motiva a manter o blog

Vou deixar essa memória afetiva na minha mente, pois não vejo motivo pra me traumatizar. Irei continuar recomendando o livro? Provavelmente não, pois agora tenho consciência de alguns trechos problemáticos e inclusive fiquei com um pé atrás em relação a autora.
Talvez você pense que tudo isso é besteira, que tudo bem a obra ter alguns comentários "politicamente incorretos", por que é só uma obra de ficção. Isso é algo que tenho ouvido em alguns grupos no facebook (sim, eu voltei a usar o facebook), quando a galera tenta defender autores racistas e homofóbicos. Mas a questão é que não, não dá pra relevar algo assim. Obras de ficção também carregam uma responsabilidade social - e isso é algo que eu gostaria de trabalhar em um post no futuro. Vocês leriam?

☕☕☕

Essa não foi a minha primeira decepção com uma autora. A J.K. Rowling fez isso muito antes, com os seus posicionamentos transfóbicos nas redes sociais. A diferença é que, no caso dela, eu consigo separar um pouco a obra da autora, pois esses seus posicionamentos não estão presentes em suas obras. Chega a parecer estranho que a mesma mulher que escreveu livros que retratam tanto a diversidade e o preconceito curta tweets tão preconceituosos. Continuo amando e creio que sempre amarei a saga Harry Potter, mas as atitudes da J.K. fizeram a saga perder um pouco seu encanto.
Porém, no caso da Rainbow Rowell, fiquei ainda mais aflita por que o preconceito está lá, nos livros que li e exaltei por tantos anos. Quanto a isso, gostaria até de pedir perdão. Mas tento não me culpar tanto assim pra não ficar paranoica, afinal provavelmente muitos outros livros que li na adolescência eram uma porcaria mas na época considerei perfeitos (imagina só reler John Green agora? Vixe, deixa quieto).
Eu queria muito conseguir escrever um post bem mais complexo sobre essa temática toda, mas a verdade é que todo o contexto de pandemia e degradação social no Brasil e no mundo estão impedindo os meus neurônios de funcionarem em seu potencial completo. Ou talvez eu nem possua potencial pra isso mesmo. Mas a verdade é que eu precisava muito desabafar sobre isso e também perguntar se vocês já tiveram uma experiência parecida. Me conta aí nos comentários, me fala que eu não tô sozinha nessa. Vamos todos sofrer juntos por descobrirmos que aquele livro que lemos no passado não era tão bom assim. 

0 Comments