Resenha: O sol é para todos (Harper Lee)


Tô super atrasada com esse post por motivos de: o carnaval destruiu os meus planos. Fiquei sem uma conexão estável com a internet desde a última sexta-feira, e por isso acabei não conseguindo subir esse post. E pra completar, parece que estou com dengue ou uma de suas derivadas. Escrevo aqui com uma forte dor de cabeça, a pele coçando e uma moleza enorme no corpo. Mas vamos lá!
O sol é para todos foi uma das minhas leituras favoritas do ano passado, mas por algum motivo demorei pra vir aqui falar com vocês a respeito. As vezes sinto que é mais difícil falar sobre um livro clássico, ganhador de prêmios e super reconhecido, do que sobre outras leituras contemporâneas. Acho que isso se dá principalmente por dois motivos: primeiro por quê há uma sensação de que já falaram tudo o que se tinha pra falar sobre a obra (o que não é verdade, é claro. Uma obra como essa nunca se esgota); segundo, por quê sinto que a responsabilidade em escrever a respeito da obra é maior. Mas independente de qualquer dessas sensações, vamos lá conversar sobre essa grande obra da Harper Lee.


SINOPSE: O sol é para todos conta a história de duas crianças no árido terreno sulista norte-americano da Grande Depressão no início dos anos 1930. Jem e Scout Fincher testemunham a ignorância e o preconceito em sua cidade, Maycomb – símbolo dos conservadores estados do sul dos EUA, empobrecidos pela crise econômica, agravante do clima de tensão social. A esperta e sensível Scout, narradora da trama, e Jem, seu irmão mais velho, são filhos do advogado Atticus Finch, encarregado de defender Tom Robinson, um homem negro acusado de estuprar uma jovem branca. Mas não é só nessa acusação e no julgamento de Robinson que os irmãos percebem o racismo do pequeno município do Alabama onde moram. Nos três anos em que se passa a narrativa, deparam-se com diversas situações em que negros e brancos se confrontam. Ao longo do livro, os dois irmãos e seu pequeno amigo de férias, Dill, passam por tensas aventuras, grandes surpresas e importantes descobertas. Nos episódios vividos ao lado de personagens cativantes, como Calpúrnia, Boo Radley e Dolphus Raymond, aprendem e ensinam sobre a empatia, a tolerância, o respeito ao próximo e a necessidade de se estar sempre aberto a novas idéias e perspectivas.


O sol é para todos é uma história de gente grande contada por uma criança. Scout, uma menina encantadora, filha do advogado Atticus e irmã de Jem, narra o que parece ser uma vida pacata em uma cidade pacata. Mas as coisas que ali acontecem nos falam muito sobre a sociedade americana da década de 30 e suas complicações sociais e econômicas. 
A escrita de Harper Lee é magnífica, com personagens interessantíssimos e diálogos saborosos. A leitura me fez lembrar histórias da minha infância e das que ouvi dos meus pais e avós. E me fez sentir que aprendi alguma coisa através de cada um dos personagens envolvidos. Ao ler a obra, consegui sentir o peso que ela tem como influência na literatura americana: Harper Lee abriu as portas para discussões sobre as problemáticas abordadas nela, além de trazer um estilo de narrativa que muita gente tem tentado reproduzir. Consegui enxergar ali o Neil Gaiman e sua obra O oceano no fim do caminho, e até mesmo O meu pé de laranja lima do José Mauro de Vasconcelos. 
É um livro para se ler de novo, várias e várias vezes. Enquanto escrevo já sinto saudades, e penso que não irei demorar para fazer essa releitura. Talvez eu até volte aqui e escreva mais quando fizer isso. Mas enquanto não faço isso, deixo aqui alguns trechos como aperitivo:

"Atticus disse que quem tinha diploma estava pobre por que quem vivia da terra também estava". p. 32

"O que eu quis dizer foi que, mesmo se Atticus Finch bebesse até cair, não seria tão cruel quanto alguns homens mesmo quando estão completamente sóbrios. Tem gente que... se preocupa tanto com o outro mundo que não sabe viver nesse aqui, basta olhar na rua e ver o resultado." p. 62

"Scout, por causa da natureza da função que exerce, todo advogado assume pelo menos um caso que o afeta pessoalmente. Tenho a impressão de que esse é o meu. Você provavelmente vai ouvir coisas horríveis sobre isso na escola, então me faça um favor: levante a cabeça e abaixe os punhos. Não importa o que digam, não deixe que eles a façam perder o controle. Tente lutar com as ideias, para variar... mesmo que seja difícil." p. 101

"Os senhores sabem a verdade: alguns negros mentem, alguns negros são imorais, alguns negros não merecem a confiança de ficar perto das mulheres, sejam elas brancas ou negras. Mas essa verdade se aplica à raça humana, sem distinção. " p. 254 



SOBRE A AUTORA


Harper Lee (1926-2016) foi uma mulher reservada, e uma escritora de uma obra só. Publicou O sol é para todos em 1960, tornando-se sucesso de público e crítica, e desde então nunca mais lançou um livro até que fosse descoberto o Vá coloque uma vigia, escondido numa caixa, e lançado em 2015. Não era de dar entrevistas e faleceu por causas naturais numa clínica de idosos, mas será pra sempre lembrada por sua esplendorosa obra.

Editora: José Olympio
ISBN: 978-85-03-00949-2

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