Um dos desafios que me propus para este ano é ler mais livros de não-ficção. Buscando desafogar a minha estante antes de comprar novos livros deste gênero, peguei para ler no mês passado o livro De Cuba, Com Carinho, que está comigo há mais de um ano.
SINOPSE: Yoani Sánchez escreve um dos blogs mais visitados do mundo, Generación Y, com vários milhões de acessos mensais, mas quase não consegue ser lida em Cuba, onde mora com seu marido Reinaldo Escobar e seu filho adolescente Teo. Quando eleita pela revista Time uma das mulheres mais influentes do mundo, ou quando recebeu o prêmio Ortega y Gasset, seus feitos não foram registrados, muito menos festejados pelo governo cubano. Mas ela não escreve sobre política. De Cuba, com carinho é um belo livro que narra a vida cotidiana de quem vive na ilha, sofre com a decadência da economia cubana, mas ama seu país. Alguém que não deseja que conquistas obtidas nas últimas décadas sejam jogadas fora, mas acha que o regime envelheceu junto com seus dirigentes. E conta tudo isso em textos cheios de vida, humor e certo amargor, mas muita esperança.
A história de como adquiri este livro é meio peculiar: um amigo do meu pai me emprestou, e eu, azarenta como sou, acabei tendo um acidente que envolveu uma garrafa de água mal fechada e notas de desespero. Vejam, eu sempre tenho o maior cuidado do mundo quando pego algo emprestado. Nem gosto de andar com livros que não são meus na bolsa, já pra evitar que algo aconteça. Mas o único tempo que eu tinha na época era entre as aulas na faculdade, então resolvi levar o livro comigo e deu no que deu. Fiquei aperreada, é claro, e comprei logo um novo exemplar para dar ao dono. Pedi ao meu pai que, quando falasse com ele, perguntasse se ele gostaria de ficar com os dois livros, o novo e o acidentado, pois talvez ele tivesse algum apego àquela primeira edição. Bom, não foi o caso: ele me presenteou com o exemplar que eu estraguei e se contentou com o novo. Mas fiquei tão traumatizada com o acontecido que na época nem conclui a leitura do livro.
Ok, longa - e talvez desnecessária - história contada, vamos à minha opinião sobre esta obra tão interessante. De Cuba, Com Carinho é uma coletânea de posts do blog Generación Y, escrito pela cubana Yoani. Em seus textos, Yoani fala sobre a vida cotidiana em Cuba, os problemas sociais que enfrenta, as histórias que alimentam as conversas do dia a dia e as suas experiências com o regime do país. Me encantei logo com a sua maneira de escrever, que se demonstrou bastante inspiradora, já que também escrevo em um blog.
Perdoem-me pela falta de experiência, mas sinto que não há muito o que falar sobre um livro assim: só entende quem lê. Mas posso afirmar que um elemento me chamou a atenção: a coragem de Yoani. Escrever o que se pensa em um país censurador não é fácil, principalmente quando se tem cada passo vigiado. Fiquei admirada com a forma como a autora encarou tudo isso e com a sua humildade em admitir que não se considera uma grande militante, pois por muito tempo ela permaneceu calada e ainda sente muito medo de enfrentar o governo. Mas, com seus singelos textos, ela com certeza já faz muito por aquele país.
Durante a leitura do livro, pesquisei um pouco sobre a Yoani. Descobri que muita gente a critica, principalmente os adeptos do regime de Fidel Castro. Há quem considere o governo do estadista como positivo, mas eu gostaria de pontuar aqui que isso não é uma unanimidade entre a esquerda; fato que posso afirmar pela minha própria experiência como cientista social. Entretanto, não sou nenhuma especialista em Cuba. Mas essa leitura me deixou interessada em pesquisar mais a respeito dos prós e contras desse regime e a história do país, e com certeza novos livros com essa temática irão aparecer por aqui no futuro.
Yoani chegou a visitar o Brasil algumas vezes, após um longo processo de luta para que fosse autorizada a viajar para fora de Cuba. Deixarei abaixo alguns vídeos que encontrei de suas passagens por aqui:
MANIFESTAÇÕES CONTRA E A FAVOR DE YOANI NO BRASIL
YOANI SÁNCHEZ NO RODA VIVA
Foi uma interessante leitura, daquelas que a gente risca, marca e até debate junto com o texto. A Yoani me fez pesquisar muitas coisas sobre Cuba, e me deixou refletindo sobre várias questões que eu nunca havia pensado. Ela abriu os meus olhos para este país, apesar de eu não concordar com ela em todos os pontos; algumas opiniões das autoras divergem das minhas, mas essa diferença foi muito rica pra mim, afinal estou sempre aberta a conhecer novos pontos de vista. Para finalizar, deixo aqui alguns trechos do livro como aperitivo:
"Não sou eu, nem somos nós, os que nos opomos a algo; é a realidade cubana - essa que descrevo nos meus posts - que se mostra profundamente contestatária, marcadamente opositora." p. 32
"Há uma ideia equivocada de que a coragem tem dragonas, anos de cárcere, cicatrizes, e não o rosto delicado de uma mulher tranquila, em quem não há rancor e sim perguntas." p. 43
"Aquela saudação militar era como uma arma apontada para minha cabeça, numa espécie de auto ameaça que me obrigava a cumprir com o 'Pioneiros pelo comunismo, seremos como Che'". p. 45
"'Não' é a primeira palavra que me vem à mente quando me perguntam se a Cuba de hoje se parece com a que me prometeram quando era menina". p. 52
"Há três anos tínhamos um presidente que falava horas a fio diante dos microfones, e agora temos outro que não nos dirige a palavra." p. 54
E você, o que conhece sobre Cuba? Tem interesse em saber mais sobre a história do país? Me conta nos comentários o que achou desta resenha e me recomenda outros livros de não-ficção!
ISBN: 78-85-7244-449-1
Editora Contexto
Editora Contexto
Nota: 4/5
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