Resenha: Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)

Nos últimos tempos, as distopias tem ganhado um espaço especial na minha estante. Não comecei pelas mais tradicionais: Jogos Vorazes foi a minha obra introdutória neste universo. Porém, logo depois eu embarquei em 1984, do George Orwell, e alguns anos mais tarde li Admirável Mundo Novo, do Aldous Huxley (que admito não ter sido uma leitura muito agradável para mim). No ano passado, recebi de presente de uma amiga essa edição de Fahrenheit 451, que ficou descansando na prateleira até que vi que o clube do livro Infinistante, do qual participo, escolheu essa obra para o mês de janeiro! Fiquei super feliz com a escolha, afinal adoro quando clubes e desafios literários combinam com as minhas metas de leitura. 

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SINOPSE: O livro descreve um governo totalitário, num futuro incerto, mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instalados em suas casas ou em praças ao ar livre. A leitura deixou de ser meio para aquisição de conhecimento crítico e tornou-se tão instrumental quanto a vida dos cidadãos, suficiente apenas para que saibam ler manuais e operar aparelhos. Fahrenheit 451 tornou-se um clássico não só na literatura, mas também no cinema. Em 1966, o diretor François Truffaut adaptou o livro e lançou o filme de mesmo nome estrelado por Oskar Werner e Julie Christie.



Me encantei com a história ainda no prefácio, escrito pelo Manuel da Costa Pinto. Ele fez uma ótima explanação acerca dos universos distópicos, comparando a obra inclusive com outras distopias que eu citei acima. Porém, não recomendo que leiam o prefácio antes do livro, pois ele contém spoilers! Sério, fiquei abismada com isso. Mas não foi nada que tenha estragado a minha experiência de leitura, então tá perdoado.


Essa distopia se passa em uma época onde os livros são proibidos. Qualquer livro encontrado na cidade é exterminado pelos bombeiros, que deixaram de ser responsáveis por apagar incêndios e agora exercem a função de destruir toda e qualquer obra literária com fogo. Essa nova sociedade vive então em completa alienação: rodeados por telas do tamanho de suas paredes, as pessoas passam o dia acompanhando uma programação interativa na TV. Eles consideram os personagens suas famílias, e vivem com o único objetivo de se sentirem relaxados, recorrendo até mesmo a medicamentos para isso. 

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Em meio a esse universo, conhecemos Guy Montag, o nosso protagonista. Ele é um bombeiro que atravessa uma crise ideológica após conhecer Clarisse, uma garota de sua vizinhança que parece se recusar a essa lógica social imposta. A ousadia de Montag ao enfrentar essa estrutura social leva a uma grande aventura, repleta de discussões sociológicas, ficção científica e adrenalina.

"Os bons escritores quase sempre tocam a vida. Os medíocres apenas passam rapidamente a mão sobre ela. Os ruins a estupram e a deixam para as moscas. Entende agora por quê os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida."
- Faber, página 108 

Eu me apaixonei pela escrita do Bradbury. Ele narra a história de maneira simples, porém repleta de nuances belíssimas. Por se tratar de literatura, o livro traz diversas referências a obras clássicas, como Shakespeare, Matthew Arnold, e até mesmo a Bíblia. O livro é curto e tem poucos personagens, porém é de uma complexidade narrativa interessantíssima. 

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Uma coisa legal foi que com a obra eu pude conhecer mais sobre o autor. Não sabia, por exemplo, que esse senhorzinho da foto foi também responsável pelo roteiro de grandes obras do cinema, como Moby Dick, e foi bastante premiado por suas produções. Entretanto, não concordo com todas as suas opiniões. Senti alguns problemas na obra, e discordei bastante do posfácio escrito por ele, onde o mesmo afirma, em suma, que não se deve permitir que as minorias interfiram na estética das obras (sejam elas literárias, cinematográficas ou teatrais). Essa afirmação feita por ele me fez rever alguns dos pontos que ele retratou na história, o que me deixou um pouco frustrada. Mas este livro continua sendo uma obra e tanto para mim, principalmente quando considero que foi escrito em 1953 e ainda assim tanto fala sobre o nosso presente - acredito que esse é o poder das distopias. Fahrenheit 451 entrou para a minha lista de favoritos, e sendo um livro tão bem aclamado pela crítica, acabou sendo adaptado para o cinema em 1966 e readaptado pela HBO (com uma pegada bem mais moderna) no ano passado. Confira o trailer do lançamento:



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Adorei essa edição, publicada pelo selo Biblioteca Azul da Globo Livros. O livro tem folhas amareladas na medida certa, mas que podiam ser um pouco mais grossinhas, pois infelizmente o meu marca-texto transferiu para as outras folhas =/ E considerando que esta é uma obra que exige muitas anotações, esse foi um ponto negativo. Mas creio que a culpa seja duplamente das folhas finas e do marca-texto Stabilo Boss, que percebi que, apesar de todo o hype, não é essa coca-cola toda e sempre mancha as minhas páginas. 
Recomendo muito a leitura, principalmente para os amantes dos livros, que irão se identificar com muitas das afirmações do autor se sofrer um pouco com a possibilidade de ter que viver distantes dos livros, hehe Se interessou pela obra? Me conta nos comentários!

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Editora: Biblioteca Azul
ISBN: 978-85-250-5224-7
Nota: 4/5⭐

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